No final do século XIX foi apresentada uma inovadora ligação, entre Santarém e a Ribeira, que nunca saiu do estirador onde foi desenhada.
A construção da linha de caminho de ferro e a chegada da primeira locomotiva a vapor à estação da Ribeira de Santarém, em Julho de 1861, obrigaram à criação de novas vias de comunicação com o planalto escalabitano, situado a uma altitude média de 103 metros.
Desde os tempos medievais que a ligação mais utilizada entre a Ribeira e a antiga vila no planalto continuava a ser a calçada da Atamarma, que dava acesso directo à zona de Marvila, a mais importante freguesia da localidade. Nos primeiros anos após a construção da linha do Leste e do Norte, pelo menos até 1881, a chamada estrada da estação subia pela calçada de Santa Clara.
Ao lado, desde 1877, que decorriam trabalhos ao longo das curvas e dos declives do acidentado terreno do vale da Atamarma com vista à construção de uma futura estrada da estação, a actual EN 114 - a tal que se encontra encerrada desde Agosto de 2014. A nova via permitia a ligação entre a cidade e a mais recente passagem sobre o rio Tejo, a ponte D. Luís, inaugurada em 1881.
Tempos de mudança
Época de profundas transformações, foi durante a segunda metade do século XIX que chegaram a Santarém avanços tecnológicos como a iluminação, o abastecimento de água, as escolas públicas ou os primeiros esgotos.
Neste contexto, surgiram também outras soluções alternativas para aceder ao planalto, a partir da estação ferroviária da Ribeira, há muito um porto fluvial no rio Tejo com uma intensa actividade comercial, que só viria a perder importância com a disseminação dos transportes rodoviários, a partir da ainda distante década de 1930.
O projecto com o nome de ‘Caminho de ferro funicular de Santarém’, com data de 12 de Maio, foi apresentado em 1891. Sugeria a construção de uma ligação para facilitar a circulação de pessoas e o transporte de mercadorias entre a nova estação de caminho de ferro, na Ribeira, e o planalto escalabitano, no cimo da calçada da Atamarma. Concebido por António José Albuquerque do Amaral e Lemos e Roma Barbosa, engenheiro lisboeta, o plano que previa a utilização de um ascensor que se movia em cima de carris, nunca chegou a sair do papel onde foi desenhado.
O funicular foi um dos vários projetos do género apresentados junto da Câmara Municipal. Em comum, apenas propunham uma forma alternativa para se chegar ao cimo do planalto, num época em que foram construídas outras obras semelhantes em vários pontos do país, como Nazaré ou Braga, para além de vários elevadores deste tipo existentes em Lisboa. Muitos chegaram até aos nossos dias.
Carlos Quintino
A imagem mostra o projecto original, documento que se encontra na posse do Arquivo Histórico Municipal de Santarém
Texto editado a partir de um artigo publicado na edição de 22 de Março de 2018 do jornal O Ribatejo
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