Para permitir a passagem da carruagem que transportava a rainha, Santarém viu desaparecer vestígios únicos do seu património medieval. Aconteceu no século XVIII.
A porta de Alporão - ou Alpram - localizava-se no espaço entre a Igreja de São João de Alporão e a actual Torre das Cabaças. Fazia parte dos muros defensivos da antiga vila de Santarém e era um dos acessos à cidadela, ou à Alcáçova, o recinto militar por excelência. Era, sobretudo, um espaço de circulação entre os dois recintos amuralhados do planalto de Marvila. Na Santarém medieval era uma área com bastante actividade e ponto de passagem para as romarias que se dirigiam para a Igreja de São João de Alporão.
A porta era ladeada por duas torres, uma delas viria posteriormente a dar origem à Torre do Relógio, enquanto a outra, a de Alpram, fazia parte da estrutura da Igreja de S. João de Alporão, juntamente com as antigas muralhas que se estendiam pela encosta abaixo, até ao povoado ribeirinho de Alfange, na margem do rio Tejo.
A partir do século XV a área sofre uma crescente urbanização e a porta do Alpram começa a ser demolida. Uma das torres é convertida na chamada Torre do Relógio - hoje conhecida como Torre das Cabaças - passando a informar a vila e os arredores sobre a mudança das horas através do toque de sinos colocados no cimo da estrutura.
Real demolição
Por aqui passavam todos os desfiles e cortejos reais sempre que os monarcas se deslocavam a Santarém e visitavam a Capela Real, situada na Igreja de Santa Maria da Alcáçova.
Foi precisamente esta localização que ditou o destino do último vestígio da porta de Alpram, quando, no final do século XVIII, as entidades locais ordenaram o derrube da torre contígua à Igreja de São João de Alporão e do arco que fazia ligação com a Torre das Cabaças. De passagem pela vila, no ano de 1785, a rainha D.Maria I fez questão de assistir a uma missa na Capela Real, na Alcáçova. Perante o tamanho da carruagem, a solução encontrada foi demolir o que restava da porta de Alpram para permitir a passagem do volumoso coche real.
No arco da estrutura original da porta encontrava-se uma pequena ermida dedicada a Nossa Senhora da Paz, da qual foi retirada uma imagem medieval esculpida em pedra, possivelmente do século XV. A escultura, que representa a Virgem Maria coroada, com menino Jesus ao colo e uma pomba, encontra-se actualmente em exposição no Núcleo Museológico do Tempo, instalado no interior da Torre das Cabaças. É o único vestígio conhecido daquela que em tempos foi uma das principais entradas na antiga vila. Carlos Quintino
Publicado originalmente no jornal O Ribatejo de 29 de Março de 2018
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